segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tempo do Círio

Aqui em Belém/PA é tempo do Círio de Nazaré...um tempo diferente pra maioria dos paraenses, tempo de fé, de esperança, de amizade renovada, de confraternização!

Muito mais do que uma festa religiosa, o Círio é uma festa cultural, a cultura paraense mostra sua diversidade e sua força, seja por meio da própria fé do povo que vai as ruas pra acompanhar o Círio, seja por meio dos brinquedos de miriti ou da sua culinária típica na hora do tão falado ''Almoço do Círio"!

É tempo de regresso, pois muitos paraense que estão fora de Belém, podem até não vir pro Natal, mas pro Círio é imprescindível o seu retorno... Tempo de confraternização...um exemplo disto é um vizinho evangélico que tínhamos, pois ele e sua família preparavam o Almoço do Círio, pois como ele mesmo dizia, era bom receber amigos em casa e se confraternizar...

A cidade fica uma loucura, pois, pelo menos assim que eu percebo e sinto: diferente do Natal em que as pessoas confraternizam-se em suas casas, o círio é uma festa em que o povo vai pra rua, as ruas de Belém são tranformadas em mar de gente, a confraternização acontece em cada esquina da cidade...

Não há palavras pra explicar o Círio, só quem o vivencia e que sente, pode entender seu significado... A espera pela Berlinda... a espera por sua passagem... a espera por Jesus tão pequenininho em seus braços de mãe... afinal, é por causa Dele que o povo segue Nossa Senhora, por Seus ensinamentos, por Seu amor por nós, por Sua misericórdia!

Sigamos Nossa Senhora, mas sem perder nunca o foco pricinpal que é Aquele que Ela carrega, o Seu Filho Santíssimo, o Meu, o Nosso Amado: Jesus Cristo!

No dia do Círio é impossível seguir qualquer dieta, as tentações são muitas é pato no tucupi, é maniçoba, é vatapá, porco, enfim, e pra completar, ainda tem as sobremesas... ah...é pra sair da linha mesmo!



E pra terminar, coloco aqui uma reflexão do Pe Fábio de Melo, este padre mineiro que soube tão bem compreender a mística do Círio!


LIÇÕES DO CÍRIO DE NAZARÉ

"Enquanto a corda avança e o corpo se cansa pra alma descansar,
o povo de Belém se reúne nas ruas e vira mar
por onde a Virgem Maria veleja em seu altar de flores.
É por isso que na alma de todo paraense a vida é sempre outubro..."

Nada melhor que ver a fé do povo.
Com ela eu purifico a minha teologia, volto ao ponto mais simples do verbo acreditar.
Estar em Belém, por ocasião do Círio de Nazaré fez-me voltar à infância. Ser menino de novo, deixar-me conduzir pelas mãos de minha mãe, que sempre me levava para conhecer as realidades sagradas. Talvez seja por isso que a vida não pode retirar a sacralidade do que compreendemos por mãe.
Vi o povo arrastando a corda, como se a berlinda onde vai a pequena imagem da Virgem de Nazaré, dependesse daquele esforço para prosseguir.
A corda avançava no ritmo das dores e do esforço da multidão. O calor intenso, os rostos queimados pelo sol, as lágrimas brotando sem razões claras, tudo compunha um quadro que me fez pensar na bondade, que todo cristão deve perseguir. Foi então que me senti um miserável especial. Um miserável que tem mãe. Recordei-me dos desafios que enfrentamos para alcançar a dignidade que nos constitui, e o respeito que deveria marcar nossas relações. Pensei que na metáfora da corda está presente a realidade da vida.
A corda é pesada. E por isso necessita do remanso da multidão para que não pare. Pensei no quanto aquela devoção simples pode nos ensinar a respeito do significado do cristianismo. Ainda que a multidão fosse feita de pessoas diferentes, nela não havia concorrentes, mas todos queriam levar a corda e a berlinda ao seu destino final.
No fundo, todo mundo quer acertar e ser feliz. As dores nos diferenciam, as opniões também, mas a corda da vida é a mesma.
Portanto, hoje, ainda sob o impacto do Círio de Nazaré sobre o meu coração, eu proponho que a gente continue avançando com a corda que estamos conduzindo. Ainda que tenhamos diferenças entre nós, que prevaleça o desejo de respeitar o andar de cada um.
No mais, todos estamos sob a mesma benção e sob a mesma proteção. Cada um no seu canto, compõe o verso que lhe é possível.
Unidos no mesmo desejo de acertar, ouso abençoar a todos neste dia, em que em Belém do Pará é Círio outra vez.
Com carinho e benção,
Pe. Fábio de Melo

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